sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Introdução Sobre Estações Repetidoras

Introdução Sobre Estações Repetidoras
Por PY2JF
João Roberto Gandara

Introdução

Envolvido com repetidoras desde a minha adolescência, eu aprendi muito nesses mais de 20 anos de experiência. Muito me ensinaram, mas muito mais ainda eu tive que aprender por mim mesmo. Talvez movidos pela sensação de poder, alguns radioamadores guardam segredo e não contam a ninguém a receita de como montar e manter uma repetidora. Para você não ter que passar por tudo isso que alguns de nós passamos, resolvi escrever uma série de artigos tentando ensinar a receita de como montar, instalar, ajustar, licenciar e manter uma repetidora de radioamador. Ainda não sei ao certo quantos capítulos serão necessários para cobrir esse assunto tão extenso, e também não sei se conseguirei passar tudo que pretendo, mas pelo menos aqui você encontrará um ponto de partida.

Como era no passado

Eu me lembro claramente como era fascinante ser radioamador no início dos anos 80. Os jovens de hoje podem não pensar o mesmo, mas você tem que levar em conta que naquela época não existia internet, TV a cabo, PC, videogames e toda essa parafernália que existe hoje. Acredite, ser radioamador era umas das únicas maneiras de ter contato com tecnologia. Meu primeiro rádio de VHF foi um HT Yaesu FT207, um dos primeiros portáteis do mercado. Eram 15 minutos de conversação e 14 horas para carregar a bateria, e ainda assim era o máximo. Bem, mas o ponto é que eu achava incrível usando algo tão pequeno (para a época), acionar uma repetidora que estava a mais de 30 km da minha cidade. Por muito tempo eu fiquei imaginando como seria uma repetidora. Imagine! Para se cobrir uma área de mais de 100 km de raio não pode ser algo pequeno, pois a única coisa parecida com isso que eu tive contato antes foi um transmissor de TV, que para cobrir uma cidade com 30.000 habitantes ocupava uma sala refrigerada enorme.

Estava claro, uma repetidora dessas tinha que ter no mínimo o tamanho de uma perua Kombi, e precisava de ar refrigerado. Bom, algum tempo se passou até que um belo dia eu fui convidado a conhecer as instalações de uma repetidora. Vocês podem imaginar a minha decepção quando eu me deparei com uma sucata pouco maior que uma caixa de sapatos numa sala sem ventilação. Depois disso achei que não se precisava saber tanto assim para manter uma coisa dessas no ar, mais isso é o que vamos ver mais tarde.

Normalmente uma repetidora não passa de uma sucata de rádios antigos, mas que corretamente montada e ajustada, pode fazer milagres em benefício dos radioamadores.

O que é uma estação repetidora de sinais

Uma estação repetidora nada mais é que um sistema automático de retransmissão de sinais, normalmente instalado em um local de grande elevação. Um pré-requisito para uma repetidora operar é a habilidade de receber e transmitir o sinal desejado ao mesmo tempo. Para isso ela precisa de um receptor e um transmissor separados. Por motivos óbvios, as frequências de recepção e transmissão devem ser diferentes. Essa diferença de frequência é chamada de offset ou shift. O padrão de offset atual é de 600kHz para o VHF e 5000kHz para o UHF. Seguindo a ilustração abaixo, vamos ver como uma repetidora de UHF em 439.550MHz funciona:

Aqui ambas estações estão sintonizadas em 439.550MHz e com um offset de -5000, portanto quando uma estação transmitir, a freqüência de transmissão passa a ser 434.550MHz (439.550 -5000). Vamos ver como tudo acontece: Imagine que o operador da estação portátil começa a transmitir, seu sinal sai em 434.550MHz e chega ao receptor da repetidora que está na mesma frequência. Dai esse sinal é repassado ao transmissor que o transmite em 439.550MHz. A estação móvel, que está sintonizada em 439.550MHz, passa a receber o sinal da estação portátil através da repetidora.

Quando se usa uma repetidora, é comum ouvir alguém perguntando com que sinal está chegando. Prestem atenção que o sinal que estará recebendo é o da repetidora, e não o da estação que a acionou. Essa confusão é comum com os novos radioamadores. As vezes alguém está chegando muito mal no repetidor, faz a pergunta e o novato ao responder diz: Está chegando 10 com muito chiado. Para se saber o sinal da estação retransmitida basta verificar a entrada da repetidora (reverso ou inverso), ou seja, no caso do exemplo, em 434.550MHz, daí sim saberá o verdadeiro sinal da estação ouvindo seu sinal direto. Isso é claro, se ele chegar para você sem ajuda da repetidora.

Vantagem da topografia

Normalmente as repetidoras estão localizadas em topos de montanhas ou em outros locais elevados e operam com uma potência de saída maior do que de uma estação portátil ou móvel. Essa combinação de elevação e alta potência irradiada geralmente resulta em comunicações sobre distâncias consideráveis comparadas com comunicação simplex (diretas, sem uso de repetidoras).

Subtom (CTCSS)

Subtom ou CTCSS (Continuous Tone Coded Squelch System) é um sistema de codificação muito usado nas repetidoras atualmente. Trata-se de um tom inaudível transmitido junto com o áudio da estação que deseja usar o repetidor. Se esse subtom transmitido for o mesmo que a repetidora espera receber, a repetidora é acionada e repete o sinal. Caso a estação não esteja usando o mesmo subtom ou esteja sem subtom, ela não conseguirá acionar a repetidora. A grande vantagem de se usar o subtom é no caso da repetidora estar num local poluído de RF, com isso previne-se que ela seja acionada por interferências. Houve um tempo em que repetidora com subtom era sinônimo de repetidora fechada, mas como hoje em dia praticamente todos os rádios vem com subtom instalado, usar subtom por esse motivo não é efetivo.

Quem as mantém

Normalmente uma repetidora é mantida por uma associação de radioamadores, pois é exigência da Anatel (órgão que regulamenta as telecomunicações no Brasil) que seja desse modo. Também é comum que no início da criação de uma repetidora seja apenas um grupo de radioamadores os responsáveis, mas no fim sempre acaba tendo que ter o respaldo de uma associação. Radioamadores que cuidam da manutenção de uma repetidora são conhecidos como mantenedores.

Diagrama básico

Um diagrama básico para uma estação repetidora é apresentado na figura abaixo. Com um receptor para receber o sinal de entrada, uma placa controladora para controlar as tarefas (timers, bips, identificação, liga desliga remoto, etc), um transmissor para transmitir o sinal e um duplexador para compartilhar uma única antena para o receptor e transmissor.


Esse é o primeiro artigo da série, uma pequena introdução sobre o que vem a ser uma repetidora. Com essa base, nos próximos artigos veremos com mais detalhes cada parte de uma repetidora separadamente.

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